Como determinar o que faz uma startup tornar-se um negócio vencedor?

Data: 06/10

Por: Roberto Roney Zabeo

O título deste artigo representa realmente uma provocação.

Por definição e por sua própria natureza, qualquer startup constitui-se num negócio de risco, ou melhor, de alto risco. A determinação do seu potencial de sucesso passa necessariamente por identificar um número muito grande de variáveis cuja avaliação e ponderação de relevância desafiam nosso nível atual de conhecimento. De qualquer modo vamos tentar encontrar algumas indicações e caminhos.

Antes de prosseguirmos é importante determinar o que é sucesso. Milhares (senão milhões) de livros, palestras e seminários, gurus e coaches tratam disso todos os dias. Mas não há resposta absoluta porque a definição de sucesso é algo absolutamente individual e quase intangível. Embora possam ser estabelecidos, os parâmetros para definir sucesso de forma objetiva - as empresas, os projetos e as realizações humanas nos negócios precisam disso - são quase sempre quantitativos (ROI, EBITDA, Market-Share, EPS, etc.) porque têm que representar a noção de sucesso coletivo.

Uma startup surge necessariamente da ideia de um indivíduo sobre como resolver problemas de forma lucrativa (o parâmetro de lucratividade é algo individual que pode trazer consigo as noções de sucesso, realização individual e possivelmente de felicidade). A definição de sucesso da startup é portanto a representação da visão de sucesso do seu idealizador compartilhada com todos que têm representatividade na caminhada de execução da ideia (sócios, parceiros, empregados, investidores, etc.). Ideias só valem se contiverem um fator importante de inovação, ou seja, representarem algo que resolva problemas de forma atrativa, inusitada e que proponham efetivamente uma solução de valor (aquela em que benefícios sejam superiores aos custos de obtenção).

Isso quer dizer que sucesso numa startup começa com a capacidade do empreendedor em criar forte associação de sua visão de sucesso com as pessoas essenciais à realização através de uma clara proposta de valor. Dessa forma, a visão individual de sucesso (e de valor) deve representar algo comum que interessa a todos que deverão participar juntos da empreitada. Se isso faz sentido, sucesso não significa apenas ganhar milhões e se aposentar antes dos trinta e cinco anos se outras pessoas não concordarem ou não saberem como tornar isso viável.

Em startups que possuem alguma chance de chegar a patamares mais próximos do sucesso (seja qual for sua definição e seus parâmetros) é fundamental então que haja a possibilidade da ideia central em resolver um problema de forma a criar valor sendo abraçada, nutrida, melhorada por aqueles que transformarão num produto e/ou serviço. O empreendedor tem que ter claramente a noção de que seu sucesso deve ser compartilhado e que os problemas a resolver com a lucratividade esperada não são exclusivamente os seus.

Essa etapa requer paixão e, ao mesmo tempo, humildade. É como respeitar os limites do desconhecimento e aceitar que existem enormes desafios na escalada sem que se perca a noção da direção e distância até o topo. Outros elementos fundamentais na etapa são os que já participaram ou participam de jornadas semelhantes - representados por conselheiros e mentores. Startups têm que aprender coletivamente, com e através de muita gente. Mudanças constantes representam aprendizado na escalada e não demonstração de incerteza se o topo seguir sendo a meta desejada. Testar hipóteses continuamente é fundamental para contornar caminhos sem saída ou precipícios ocultos.

A composição da equipe – além da paixão e compartilhamento absoluto da visão de sucesso – tem que ser extremamente cuidadosa com relação ao conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessários para a jornada. Um grupo de pessoas que deve reunir persistência, concentração e trabalho árduo durante muitas horas, dias e anos tem que estar permanentemente comprometido para que não haja esmorecimento e baixas e, em havendo, que não comprometam o empreendimento de forma definitiva. Além disso, e principalmente, as pessoas devem se complementar mutuamente para mitigar fraquezas e carências individuais buscando e acumulando cada vez mais o conhecimento como a força que norteia e sustenta a equipe de trabalho.

O fardo é pesado, as horas escasseiam com tanto caminho ainda a percorrer e os recursos existentes não permitem incorporar gente que não seja absolutamente necessária à viagem. Os papéis devem ser claramente definidos; sem que haja essa definição será muito improvável que o esforço coletivo seja canalizado de forma positiva porque quanto menos recursos existirem mais competências são exigidas de cada recurso disponível.

Sendo assim, é essencial que se determine:

  • Quem deverá prover conhecimentos sobre soluções, tecnologias e processos para que a ideia se materialize.
  • Quem cuidará de levar a ideia aos clientes e determinar como pode ser ajustada e melhorada.
  • Quem cuidará das finanças e dos recursos necessários para que a startup siga adiante.
  • Finalmente, quem cuidará de juntar essas peças, manter a direção, velocidade e ritmo para que todos se mantenham engajados na visão de sucesso.

O grande sinal de que o sucesso pode ocorrer é dado pelo primeiro cliente faturado pela nova empresa. Isso significa que alguém identificou valor naquilo que a startup produz. A pergunta seguinte é: para quantos mais clientes temos, devemos e podemos continuar a entregar valor? Só a partir dessa resposta é que se determina quanto possivelmente vale nosso negócio. Antes disso só teremos efetivamente uma ideia, uma apresentação, uma planilha, um grupo apaixonado, talvez um protótipo e... certamente despesas recorrentes.

A avaliação de quanto vale nosso negócio passa pela determinação de riscos gerais que o envolvem (economia, setor econômico, hábitos e tendências de consumo, concorrência, aspectos regulatórios e jurídicos, etc.) e também uma análise do potencial real da startup numa dimensão previsível de tempo que é fundamental para a determinação das receitas, custos e recursos necessários para sua continuidade. Um Plano de Negócios - embora necessário - não é suficiente para esse papel e sim o contínuo e persistente acompanhamento de resultados através da fixação de milestones em áreas críticas da operação e o cotejo destes com os resultados efetivamente alcançados.

A evolução de uma startup não pode ser avaliada apenas pelo cumprimento de prazos e datas e sim pela dinâmica de suas atividades/crescimento bem como pela atenção dada às necessidades/oportunidades que surgem na jornada através do aproveitamento de situações imprevistas que são parte integrante da dinâmica do negócio (seja para mitigar riscos, seja para maximizar potencial). Isto significa estar alerta todo o tempo e ampliar o alcance da prospecção contínua de fatos e circunstâncias que afetam os resultados.

Recursos deverão ser aportados em diversas fases do desenvolvimento da nova empresa. Embora não exista uma regra básica para determinar uma sequência ou fluxo, normalmente startups começam suas atividades com os recursos dos próprios empreendedores e de seus associados iniciais (equipe de gestão, parentes, amigos, família). Dessa forma os empreendedores, desde o início, estão absolutamente integrados com cadeia produtiva do negócio e seus aspectos críticos. Nessa etapa o aprendizado é praticado através do exercício permanente de priorização que é fundamental para a construção de toda e qualquer iniciativa de empreendimento.

Raramente no estágio inicial de suas atividades a startup tem poder suficiente de atratividade como negócio para produzir comoção num investidor profissional. Este, por mais aberto ao risco, normalmente quer ter uma prova de conceito de que a ideia possa produzir resultados econômicos suficientes para justificar um aporte de capital e as oportunidades e riscos que envolvam sua participação acionária e/ou societária.

Quanto mais profissional for esse investidor mais ele verá os resultados potenciais da startup como efeito combinado de todas as condições essenciais que ela deve possuir para se constituir numa alternativa de investimento com a possibilidade de retorno satisfatório. As causas efetivas (pontos focais de interesse de um investidor) para um retorno saudável de investimento numa startup são:

  • Inovação (qual a intensidade de um produto/serviço em resolver uma necessidade de forma a produzir valor reconhecido pelo mercado potencial).
  • Competências do Empreendedor (como a startup está equipada para produzir o valor reconhecido pelo mercado potencial de forma escalável) e Competências Associadas (como consultores, mentores e investidores Anjo aportam conhecimentos e experiência para expandir as dimensões requeridas de competências).
  • Potencial e Escala (como as oportunidades são identificadas, maximizadas e escaladas num futuro previsível e como os riscos do negócio serão mitigados).

Fazer de uma startup um negócio vencedor depende da combinação adequada de inúmeros fatores. Ideias e inspiração vêm da constante necessidade e inquietude que todos temos quando buscamos alternativas para o alcance de nossas metas individuais. No entanto, o sucesso de startups depende de enorme determinação pessoal e disciplina de execução através de processos nem sempre padronizáveis, bem como de uma firme decisão sobre o que fazer de sua vida profissional com relação às dimensões de realização.

O que é certo e definitivo é que o sucesso de uma startup passa por:

  • Clara noção e definição do que seja o sucesso para o empreendedor (sob quaisquer parâmetros estabelecidos).
  • Competências pessoais e competências básicas de gestão.
  • Capacidade em envolver e engajar - além da sua equipe de trabalho - um grande número de pessoas (especialmente os clientes e investidores) ao redor de uma clara e inovadora proposta-de-valor.
  • Necessidade de aprender associada à humildade em rever posições (eventualmente retroceder para avançar).
  • Forte disciplina e determinação pessoal em realizar.
  • Persistência e coragem em assumir permanentemente desafios.
  • Perfeita combinação da emoção e da razão em busca de realizações e felicidade.

Embora essas condições não garantam absolutamente o sucesso, muito provavelmente terão efeito preventivo sobre o fracasso.