Inovação em Mobilidade: Conheca a Mobicity e Leia a Entrevista com o Marcelo Sakai
Data: 15/11By Luiza Rezende
Olá a todos,
O post de hoje é sobre a Mobicity, startup fundada pelo Marcelo Sakai e na área de mobilidade e também sobre a jornada empreendedora dele. O depoimento do Marcelo está incrível, espero que seja uma inspiração para vocês. Confiram a entrevista e, caso desejem, deixem seus comentários abaixo:
1- Como você descreveria a Mobicity?
Marcelo: A Mobicity é uma organização de empreendedores que tem como objetivo aproximar as pessoas em diferentes âmbitos para tomar decisões mais sustentáveis sobre a maneira de deslocar, gerir e se relacionar quando o assunto é Mobilidade.
2- De onde veio a ideia?
Marcelo: Antes de empreender em Mobilidade, eu dava muita carona na faculdade (FEARP/USP) e em viagens nos finais de semana para ver a família (Ourinhos/São Paulo) sempre que podia. A minha experiência de trabalho na Amcham (Câmara Americana de Comércio) foi uma escola sobre networking, criação de valor no setor B2B e Relações Governamentais – sobre como unir um setor de empresas para levar propostas que possam contribuir em políticas públicas. Com isso, juntei-me com meu primeiro sócio neste negócio, o Jules, que é francês e estava terminando um mestrado sanduíche na USP e o tema era relacionado ao covoiturage (carona, em francês) e apresentou alguns passos que já estava dando para trabalharmos com a Carona para empresas. Assim, nos unimos com empreendedores belgas e iniciamos uma parceria com a tecnologia que possuíam.
Hoje a Mobicity é uma ideia compartilhada por todos da equipe, pois o primeiro passo para trabalhar no negócio é se importar com o que fazemos e os cofundadores se complementam na capacidade de criar valor.
3- O que você mais gosta no setor?
Marcelo: Tem muitos problemas para serem resolvidos em nosso país se compararmos infraestrutura e demanda relacionado à logística e mobilidade. O que é interessante ao trabalhar com empresas é que se você fizer um bom trabalho o mercado tem muita chance de te absorver, pois muitas das empresas têm o mesmo problema.
Outro ponto que nos interessamos é que mundo corporativo é cercado de comportamentos individuais viciosos e dar opções diferentes possibilita não apenas uma quebra de rotina, mas rever o modelo mental sobre como as pessoas se relacionam e se comportam no ambiente de trabalho. Muitas empresas perdem talentos por não serem capazes de servir a heterogeneidade de seu público interno.
Por fim mobilidade é o tema da década, o que acabou sendo um requisito chave também ao recebermos a confiança e o aporte pela LAAS – Latin America Angels Society – primeiro fundo anjo à investir na Mobicity.
4- Como você obtém feedback de seus clientes?
Marcelo: Atualmente são duas formas. Uma direta, através de ações presenciais na empresa ou entrando em contato à distância. A outra é pelas análises de usabilidade dos aplicativos.
5- Como você sabe se o produto está resolvendo as necessidades dos clientes?
Marcelo: Feedback constante e números (KPI’s), mas eu costumo dizer que a recompra é fator decisivo e já entramos nesta fase.
Mas primeiro é preciso entender quem é o cliente, por que no fim todo mundo costuma ser, certo?
Em nosso modelo, a melhor definição que tenho trabalhado é que trabalhamos num modelo B2E (Business to Employee) – um híbrido entre o modelo de negócio B2B e um modelo de desenvolvimento de produto mais alinhado ao B2C ao se tratar da usabilidade.
O trabalho de criação de valor – empresa x colaborador – é muito complexo, então é preciso seguir com paciência nos conceitos de gestão de Startups. Em um ano, por exemplo, visitando o cliente bimestralmente/trimestralmente para acompanhar os resultados precisamos sempre dividir os sprints (períodos curtos e focados) de desenvolvimento da solução alinhando o que a empresa enxerga como benefício de gestão e o que facilita a vida dos colaboradores diariamente em mobilidade.
6- Qual foi o principal desafio que você enfrentou até hoje na sua startup?
Marcelo: Montar a própria equipe e recomeçar uma nova marca, vou me alongar aqui para explicar melhor.
Quando comecei o negócio ao final de2012 com o Jules (sócio francês) e parceiros belgas, tudo estava lindo (rs). Na abertura do negócio conseguimos dois projetos e um deles foi com uma das empresas mais representativas no mercado brasileiro, o que trouxe também uma responsabilidade muito grande. Menos de um ano depois, os cofundadores da Djengo na Bélgica iniciaram um segundo projeto chamado Djump (semelhante ao Lyft e Uber), e a evolução da solução ficou comprometida em meio estas mudanças, o que era um enorme problema considerando que o DNA de uma startup é baseado em medir, medir e melhorar.
A situação ficou ainda mais complicada quando meu sócio, por questões pessoais e colocando isto de forma muito honesta e razoável, precisou voltar para a França. Nesta época, eu tinha oportunidade de voltar para o mercado corporativo, mas além de atender os clientes que já tínhamos, outros dois novos apareceram. O maior desafio então foi conseguir atender uma série de necessidades destes projetos, trabalhar com uma tecnologia que não estava se adaptando e um país em que o mercado em questão ainda está em amadurecimento.
Após passar o ano de 2014 praticamente cuidando dos gargalos, a decisão mais difícil foi recomeçar então, montando um time de desenvolvimento no Brasil. Eu não fui muito de participar de programas de aceleração, ia direto em mentores chave em que eu acreditava e sugava (aprendia) muito, o Juán Bernabó (Germinadora) foi uma delas, uma pessoa com um espírito e experiência fantástica para este setor. Pedi duas dicas pessoais e dois livros como indicação e me foquei nisto, até hoje! O Rodrigo Palos (CargoBR), um empreendedor exemplar, também é alguém que me ajuda a balizar as decisões de negócio, pelo fato de estar alguns passos à frente.
Por último, coisas como o não apoio do meu pai sobre empreender cedo – por preferir que eu seguisse o caminho tradicional pela segurança da faculdade que cursei somado a experiência na Amcham (Câmara Americana de Comércio), que é uma excelente escola para o mercado corporativo – somado ao tratamento de depressão da minha mãe, tudo isto é um teste pessoal para saber o quão determinado você está fazer algo. Aqui eu preciso agradecer a companhia de amigos como o Gustavo Emerick, Ricardo Agostinho, o apoio dos meus irmãos em diferentes momentos, entre muitos outros, dos quais me servem como suporte, companhia e exemplo nos dias de hoje.
Concluindo, o desafio de recomeçar uma marca nova com um time novo é o mais desgastante quando você é o responsável por motivar as pessoas com recursos limitados, mas quando eu vejo uma equipe – Vitor, Jéssica, Giovanni, Júlio e recentemente, o João - em que eu me sinto o “pior” na sala hoje, isso me dá muito orgulho.
7- Quais são as vantagens de ser um empreendedor no Brasil? E as desvantagens?
Marcelo: Apesar de ter um sócio francês e ter trabalhado com parceiros belgas, eu não tive experiência no exterior, o que dificulta uma opinião mais detalhada.
Não sei se isto é uma vantagem, mas temos tantos problemas para resolver em nosso país que isto acaba sendo uma oportunidade. Um finlandês me disse tempos atrás, “sai de lá porque é tudo muito previsível, tudo dá certo”. Loucura, não?
Ao meu ver, nosso povo – forma de se relacionar - e heterogeneidade são grandes diferenciais. Você pode ter um produto muito bem aceito no Rio de Janeiro e em Florianópolis, mas rejeitado em São Paulo e Curitiba. Temos cidades como Belo Horizonte, Ribeirão Preto, Recife que estão se possuem polos de tecnologia e desenvolvimento com nuances diferentes. Tem muita oportunidade e não é de hoje que a capacidade de gerir em meio à complexidade e incerteza é uma vantagem dos brasileiros.
Eu não sou de ficar reclamando, quando vejo algo que posso mudar de alguma forma eu me envolvo mesmo que rapidamente, do contrário, não invisto tempo no momento. Como desvantagem, vejo a cultura do “parecer” ao invés do “ser” como um ponto crítico para o cenário dos empreendedores. Investidores que não sabem o que é risco, pessoas que criam uma página no facebook e chamam de startup, advogados que pela postura podem separar investidores e empreendedores e aqui eu indico muito a leitura do livro Venture Deals. Mas eu vejo também que estamos caminhando, tem muita gente boa trabalhando na “surdina”.
Eu acredito que quando os empreendedores que construíram algo do zero no Brasil se tornarem investidores – o que já vem acontecendo - nosso ecossistema de empreendedorismo estará mais apto para aproveitar boas ideias e empreendedores que são desperdiçados em nosso País.
8- O que você mais gosta na sua rotina diária?
Marcelo: Em primeiro lugar, o fato de trabalhar em um negócio em que cada conquista é um ganho coletivo – da equipe, dos colaboradores, das empresas e das cidades – mas isso é um privilégio do próprio negócio. Há grandes empresas que precisam individualizar o payoff, estratégia que funciona numa cultura de consumo, o que não é o nosso caso.
Outra coisa que me dá prazer e estamos construindo aos poucos é termos relações mais humanas e de confiança no trabalho, na qual as pessoas podem se ocupar em fazer melhor o que sabem. Como o Steve Jobs disse em uma de suas entrevistas, é preciso escolher pessoas self-management (auto-geridas, ou proativas) para que não seja necessário fazer a micro-gestão. O que é preciso escolher as pessoas certas, alinhar a visão entre todos e deixarem ser artistas.
9- Como você se imagina em 10 anos?
Marcelo: Empreendendo bastante, cada vez mais em negócios sociais, conectando pessoas e soluções.
Quando tinha 15 anos vi a famosa foto de Kevin Carter (que cometeu suicídio, posteriormente) de uma criança no Sudão desnutrida e abandonada, na época chorei uma tarde inteira e jurei pra mim que acabaria com a fome na África, sabe como é quando somos novos, né? Mas acho que algo nisso faz parte do que eu sou. Quando contei isto para meu diretor – Alberto Matias - que fundou a Faculdade de Administração pela USP em Ribeirão preto, ele me disse “Por quê você precisa ir tão longe para resolver problemas que você tem aqui? Você pode começar por aqui”.
Talvez dando aulas também, caso eu seja bom o suficiente.
10- Se você tivesse 1 bilhão de reais para melhorar o Brasil, como você gastaria o dinheiro?
Marcelo: Eu tenho interesse em trabalhar e estudar negócios de acessibilidade à Saúde, Alimentação, Educação e Energia. Trabalhar com Mobilidade hoje ajuda a me conectar com estes temas de formas diferentes.
Quando era mais novo pensava assim, “se eu puder, vou juntar uns R$ 10 milhões no banco, e então vou poder trabalhar de graça ajudando quem eu quiser”. Mas eu aprendi que quem deixa dinheiro no banco assim é porque está se abdicando da responsabilidade de torná-lo um recurso mais sustentável, responsabilidade que é passada aos bancos que empresta de forma insustentável, pelo menos no Brasil, embora de acordo com os conceitos atuais da economia. A parte boa é que felizmente tais conceitos vêm sendo renovados com os novos modelos de microcrédito e crowdfunding.
Por isso, eu investiria praticamente tudo em projetos e pessoas com modelos sustentáveis em negócios de impacto social, pedindo ajuda, claro, para as pessoas que já estão fazendo isso bem.
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Luiza S. Rezende | Advogada empresarial especializada em startups |