Os Sinais Vitais de Uma Startup: Execução e Disciplina

Data: 11/01

Por: Roberto Zabeo

Os assuntos relativos ao “fazer acontecer” (execução) têm sido foco central de interesse do mundo empresarial desde pelo menos o início do século passado. O estudo, a estruturação e a prática de conceitos sobre o tema fez (... e tem feito) a fama (... e fortuna) de inúmeros pensadores, acadêmicos, consultores, executivos, gurus e etc..

A atenção sobre o “fazer corretamente e com menos recursos” deve-se à necessidade permanente e imutável de aumento de produtividade em qualquer negócio, em qualquer tempo e em qualquer ramo de atividade, independentemente do seu estágio de vida, sua representatividade no mercado e/ou dimensão econômica. No entanto, a necessidade de se criar valor (gerar mais benefícios que o custo de aquisição/produção - essência de qualquer negócio) incorpora naturalmente a ideia de inovação e vai muito além da produtividade, estendendo-se para a manutenção do valor criado ao longo do tempo (ajustando/inovando os benefícios a novas condições de mercado e de demanda). Isso é o que faz toda a diferença para explicar como uma empresa pode se tornar competitiva e assim se manter.

A noção de execução (o fazer acontecer) está totalmente associada à criação contínua de valor através da inovação para provocar a necessária geração de competitividade; no entanto, para que isso ocorra, a execução - junto ao propósito idealizado do negócio - traduz-se na noção de eficácia (“fazer o que deve ser feito”) como resposta à necessidade de um grupo significativo de clientes. Se a identificação dessa necessidade e a entrega de valor realmente corresponder à expectativa dos clientes a empresa prosperará.

Conclui-se então que propósito e execução andam sempre juntos e abraçados, representando os pilares estratégicos de qualquer organização; sendo assim, as noções de eficácia e eficiência devem ser associadas e traduzidas em operações voltadas aos clientes, criando-os e mantendo-os através de uma proposta sempre superior de valor. A proposta superior de valor deve ser convertida numa execução que represente e crie efetivamente novas experiências positivas de compra, consumo ou uso, percebidas com melhores do que as existentes de forma sustentável. Isso quer dizer que a empresa deve “fazer sempre o que deve ser feito de forma sempre correta”.

Algumas empresas estabelecidas e tradicionais podem sobreviver por algum tempo fazendo corretamente coisas erradas ou fazendo as coisas certas de modo não muito correto. A representatividade histórica, relações de mercado, hábitos de compra/consumo arraigados e imagem pré-existente permitem que muitos negócios com essas deformações possam sobreviver por algum tempo.

Uma startup, no entanto, não terá razão-de-existir sem que eficácia e eficiência sejam colocadas em prática todos os dias. Ao romper a barreiras do convencional e do conhecido, para provocar novas experiências e criar um valor superior, a oferta de uma startup tem que ser testada e provada a todo instante sem que tradição e densidade econômica estejam presentes para encobrir e minimizar enganos ou inconformidades. É o teste mais ácido e penoso que qualquer empreendedor terá que se submeter para fazer um negócio sair do papel e se tornar um business real com chances de êxito. Em novos negócios, é o exercício real da capacidade de execução que estabelece a distinção entre sonhadores, ilusionistas, mártires e milionários.

Para sustentar os requisitos básicos para que a plenitude da execução ocorra (“fazer acontecer o que nosso propósito estabelece - criando valor superior - da melhor forma possível”), algumas condições devem estar presentes. São as condições necessárias (não as suficientes) para que o empreendedor e sua equipe de trabalho possam produzir eficácia e eficiência ao mesmo tempo descritas pelos cinco Cs da execução, a seguir:

  • Consciência - porque estamos neste negócio, quem são nossos clientes e que valor superior propomos criar?
  • Competência - que conjunto de conhecimentos e habilidades devemos dominar para criar o valor superior que nos propomos?
  • Concentração - quais as coisas fundamentais que devemos fazer de forma excepcional?
  • Consistência - como faremos as coisas fundamentais de forma a criar o valor superior de forma contínua, estável e replicável (com certa previsibilidade)?
  • Compromisso - até onde associamos nossos propósitos pessoais com o propósito de criação de valor superior deste negócio e com as coisas que temos que fazer por isso, e qual nosso nível máximo de tolerância e sacrifício que será dedicado?

Essas condições (todas em conjunto) devem estar presentes e representar o acervo mais valioso que sustenta a gestão executiva de qualquer startup, devendo compor a homogeneidade de princípios no exercício contínuo dos cinco Cs e, ao mesmo tempo, incorporando positivamente a heterogeneidade e complementariedade de individualidades e talentos.

O “adesivo” que junta todas essas condições chama-se disciplina de execução e é representada pelo reconhecimento - e contínua revisão - do que deveria ser feito de forma excepcional todos os dias vs. o que efetivamente será, está sendo e foi executado, cotejando a aplicação de cada uma das condições de execução (os cinco Cs) com o que é realmente praticado. Disciplina não deve ser entendida e representada somente pela férrea aderência a métodos e procedimentos (embora isso seja importante) e sim por um “estado de espírito”, sempre alerta, voltado ao aprendizado e à busca incessante de melhoria para o alcance do propósito (isso permitirá e facilitará a escolha das melhores alternativas – métodos e procedimentos adequados - para fazer acontecer o que deve acontecer).

Sem disciplina, a execução começa a se tornar somente um exercício metodológico formal (o que é parcialmente válido), algo que pode ser procrastinável (o que é totalmente inaceitável) e que também pode desaguar num desfile de egos e desculpas (que representa o fim do negócio, ou o princípio do fim). Essas deformações são o oposto do que a efetiva disciplina de execução representa como prática essencial de transformação e de realização.

Ao avaliarmos startups nos deparamos muitas vezes com propostas de inovação interessantes, entusiasmo e paixão arrebatadora, planos de negócios tecnicamente perfeitos e equipes de gestão sólidas em termos de formação profissional e acadêmica. No entanto, quando aprofundamos nossa avaliação sobre o potencial de execução, através da análise da existência dos cinco Cs e a intensidade com que se manifestam na equipe, podemos identificar que esse novo negócio terá dificuldades em reunir as condições para entregar o valor superior que deveria oferecer. As barreiras normalmente estão em saber definir, reunir e montar de forma correta as peças necessárias, com a velocidade adequada, para que pessoas, prioridades, etapas, recursos, atividades e resultados sejam convergentes com relação ao propósito do negócio (algumas vezes, até o propósito é inexistente, vago, difuso ou inexequível).

Execução e sua disciplina, dessa forma, são os sinais vitais mais eloquentes na representação das condições de gestão necessárias para que se considere um novo negócio competitivo e promissor. Ofereço-lhes um desafio: embora não tenha sido somente através disso, excluam ou minimizem os fatores execução e disciplina e expliquem o sucesso de Apple, Microsoft, Amazon, Facebook, Google de outra maneira. Boa sorte!