Sinais Vitais de Sucesso de Uma Startup - Fidelidade a um Propósito
Data: 24/11Por: Roberto Roney Zabeo
Como sequência do meu artigo anterior “Os Dez Sinais Vitais de Sucesso de Uma Startup!”, gostaria de abordar cada um dos dez sinais vitais de sucesso que considero as bases de sustentação de qualquer iniciativa de negócios. Com isso, provoco cada um de vocês a refletir como isso se remete às situações que vivemos diariamente, especialmente ao lidar com a complexidade crescente que envolve as atividades de empreendedorismo.
Hoje vamos falar de propósito como pedra angular de qualquer empreendimento. A respeito disso, tomo inspiração na sabedoria de alguns gurus que estruturaram o que considero os conceitos essenciais sobre estratégia, gestão, liderança, motivação e engajamento. Drucker, Adizes, Goleman e Kotter representam pensamentos medulares nessa questão; a eles se juntaram recentemente alguns outros que nos arejam com ideias mais diretamente relacionadas com a realidade atual.
Como referência sobre o entendimento do que seja a noção de propósito numa empresa vou interpretar quase literalmente a definição de Christoph Luenegurguer no livro ”A Culture of Purpose”:
· Propósito é algo aspiracional, mas que induz à ação, estabelecendo uma intenção que é compartilhada com grau de impacto que vai além da própria organização porque captura um ideal. Um propósito vai além de crescimento rentável, do valor criado para o acionista, ou qualquer outra medida que reflete que se está fazendo certo as coisas (gerando eficiência). Ao invés disso, o propósito é uma promessa de fazer as coisas certas (criando eficácia). Audacioso e arrojado, um propósito inspira um número significativo de pessoas a agir.
A essas noções, como complemento e reforço, agrega-se a contribuição extraordinária de Simon Sinek cujo livro “Start with Why” estabelece com muita clareza que pessoas se associam a uma ideia (criada por uma empresa ou instituição de qualquer natureza) quando realmente internalizam (e vivem intensamente) o porquê ela é importante e de que forma lhes diz respeito - isso é o Know Why. A partir disso podem usar o melhor de suas competências para fazer da melhor forma possível - isso é Know How - o que a ideia as propõe a fazer - é o Know What.
Analisamos diariamente um bom número de startups para avaliar potencial de investimento e raramente vemos nelas (mesmo que implicitamente) um claro propósito, a razão-de-existir do negócio, seu ideal, sustentando-as como fator de inspiração e direcionador de ação - hoje, amanhã e sempre. Sem que saibamos o porquê fazemos algo, fica incompleta a determinação do nível de know-how exigido (em todos os aspectos – técnicos, gerenciais e humanos) para que determinada oferta (ou o que se está produzindo) seja efetivamente a mais valiosa possível.
Mesmo em startups com um número mínimo de participantes na gestão ou operação, discute-se muito mais o que produzir (Know What) e como produzir (Know How). Pouco ou nada se fala do propósito do negócio como essência de criação de valor e bem-estar para muitos na perspectiva de longevidade e perpetuidade do negócio. Declarações de visão, missão, valores - que apenas existem para dar corpo a um propósito – não nos comovem porque orações sem crença não levam a nada.
Mesmo em grandes corporações, em suas recepções, corredores, escritórios, fábricas, as declarações de visão, missão, valores são muito mais simbólicas peças gráficas do que a expressão de uma cultura praticada em direção a um propósito conhecido e “abraçado”. Se duvidarem, perguntem a diversos participantes nos mais diferentes níveis hierárquicos, funcionais e departamentais se sabem o porquê a empresa existe e qual a contribuição deles para que isso ocorra. Tenho quase certeza que a grande maioria das respostas não apresentará alinhamento e congruência; serão muito mais voltadas a questões de eficiência do que eficácia, muito mais referidas ao curto-prazo do que ao longo.
Provavelmente essas grandes corporações tiveram, quando startups, um propósito claro alavancando as ações que sustentaram o crescimento. O arrefecimento do impacto do seu propósito original ao longo da trajetória dificilmente poderá manter perspectivas de sucesso continuado, independentemente de operações eficientes. São empresas que sobrevivem pela “densidade econômica” criada, mas irão "murchar", podem ter certeza. Se é destrutiva em empresas consolidadas, essa ausência de "alma" éinaceitável em um novo negócio,
Como uma startup tem como riquezas o poder das ideias, a inovação, o espírito aberto ao risco e ao aprendizado, tudo isso sustentado por devoção, dedicação e entrega total de sua equipe de trabalho, nada melhor que definir e estruturar esses elementos como um ideal a perseguir e tê-los como essência das suas vantagens competitivas. Ao fazer isso, cria-se uma causa, um propósito muito claro e forte, que conduzirá essa nova empresa por tempos difíceis tornando as questões do que produzir e como produzir reféns do valor que se propõe a criar, e isso gera naturalmente crescimento e prosperidade, não só ao representar a realização de valor econômico, mas principalmente pelo poder de transformar para melhor a vida de muita gente.
Portanto, ao iniciar um novo negócio ou avaliar sua potencialidade como investidor é fundamental que se observe a solidez das fundações representada pelos propósitos, explicitados, pregados e praticados pelo(s) fundador(es) e abraçados inteiramente pela equipe de trabalho.
A existência de um firme propósito e a fidelidade a ele dedicada, são os pilares que garantem ao longo do tempo que a proposta de valor da empresa - quando provada - seja protegida e a avaliação decorrente do negócio significativamente aumentada.