Sinais Vitais de Sucesso de Uma Startup: A Busca de Conhecimentos Complementares
Data: 19/01Por: Roberto Rooney Zabeo
O Google é um instrumento fantástico para disponibilizar informação. Fornece muito do que queremos saber de imediato, de forma ampla e com certa profundidade. Se você adicionar algumas pitadas de Wikipedia, provavelmente o que queremos saber é alcançável, literalmente, através da ponta de nossos dedos.
No entanto, a sabedoria está entre discernir o que queremos saber versus o que necessitamos saber. E aí, é preciso abrangência e profundidade de conhecimento (muito mais que só de informação). Isso significa juntar harmoniosamente todas as peças requeridas para que uma ideia ou iniciativa possa ganhar vida de forma plausível e ser conceitual ou funcionalmente realizável.
Na realidade o roadmap do conhecimento é tão amplo e complexo que, sem informação adequada e disseminada, podemos isoladamente passar toda uma vida (independentemente do nosso brilhantismo intelectual) para desenvolver uma ideia ou conceito que provavelmente já foi criado, testado e aplicado por alguém ou por um número maior pessoas. A informação, nesse contexto, é fundamental como referência e âncora do conhecimento.
Conhecimento é muito mais do que saber sobre determinado assunto, ter a informação ou as respostas certas sobre ele. Na realidade, conhecimento é o saber transformado na capacidade de fazer as perguntas certas, cada vez mais e melhor, no momento certo, para produzir o resultado desejado. Podemos chegar a entender a ideia de que conhecimento seja a expansão do limiar da curiosidade intensa e estruturada sobre determinado assunto totalmente em linha com sua aplicação prática e/ou existencial.
Quando falamos de startups isso se torna extremamente crítico. Um novo negócio, para ser bem sucedido, tem que aventurar nas áreas da inovatividade (que significa a aplicação da inovação – que, por sua, vez é a transformação em valor de novas formas de fazer as coisas e de resolver problemas). Essa situação implica na necessidade de obtenção de um enorme volume de informações para gerar o conhecimento necessário - novo e indisponível na sua totalidade - que cria e impulsiona a proposta-de-valor do negócio, transformando-a em atividades.
Indivíduos com extraordinárias ideias, brilho pessoal e formação adequada, ao iniciar uma startup percebem que, mesmo ao compor uma equipe motivada para alto desempenho potencial, não terão todo o “estoque” necessário de conhecimentos técnicos, comerciais, gerenciais e financeiros requeridos para levar a iniciativa a bom termo. O bom-senso que se aplica aqui é resumido em simplesmente indagar: “O que é crítico para este negócio e que, isoladamente, não posso ou sei como realizar?”. Isso quer dizer que é necessário complementar os conhecimentos existentes.
Na sequência, naturalmente ocorre a determinação da intensidade do conhecimento complementar que se deve ter e buscar para fazer o que deve ser feito. Para isso, a startup deve ter o roadmap de suas atividades totalmente associado ao roadmap dos conhecimentos vitais para cada etapa do “plano-de-voo”. Por essa razão, deve-se investir bastante tempo em especificar o resultado esperado de cada etapa e o conhecimento necessário em cada uma delas.
A especificação do conhecimento necessário, se não realizada, torna as operações penosamente improdutivas e fatalmente caras ao incorporar conhecimentos - mesmo que interessantes - de forma generosa (ou precária) e extemporânea, ocorrendo o fenômeno desastroso do se fazer, mesmo corretamente, “muito por pouco tempo ou pouco por muito tempo”. Essa situação é improdutiva porque distrai o foco sobre o que é crítico em determinada etapa e, ao mesmo tempo, é caríssima porque implica em gastos diretos (salários, bônus, fees, comissões, etc.) e indiretos (custo da distração sobre o que não é essencial); gostaria de lembrar que, além do dinheiro, o tempo é o recurso mais escasso numa startup e que, mal gasto, penaliza seu desempenho de forma inexorável. Velocidade e precisão devem andar lado a lado.
Se o testar hipóteses rapidamente e o errar com a consciência de fazer sempre melhor são drivers importantes para transformar uma proposta-de-valor num produto/serviço viável e de futura grande aceitação, o conhecimento fundamental a ser incorporado em cada etapa deve responder ao teste ácido de que sua aplicação que é: encurtar ao extremo o período de realização, diminuir o volume potencial de erros e a fatalidade de cada erro, em cada etapa crítica do negócio.
Ao buscar e trazer conhecimentos, deve-se ter muito cuidado com a distinção entre o que é complementar (o que falta) versus o que é suplementar (o que agrega/aumenta). No início das operações deve-se buscar principalmente complementaridade de conhecimentos (busca-se eficácia; “fazer o que deve ser feito”) e isso implica abraçar o mínimo necessário para colocar a startup em marcha e dar vida à sua proposta-de-valor. No desenrolar da vida do novo negócio - em que ele já caminha e se sustenta - o fator suplementaridade ganha importância, especialmente quando houver a necessidade de ganhos de eficiência e produtividade operacional (o “fazer corretamente”) e isso quer dizer aumento da profundidade operacional.
Se não entendermos a natureza do conhecimento necessário, poderemos transformar uma startup num laboratório, onde se testará infinitamente a melhoria do óbvio através da aprofundamento da curiosidade sobre determinada proposta com pouco valor efetivo. Se o empreendedor tiver os recursos necessários (e algum investidor a paciência) a startup será incubada por um longo tempo e terá como resultado um exercício intelectual sem entrega de valor econômico como negócio.
Quem investe numa startup ainda nas fases iniciais de desenvolvimento, com a expectativa de retorno real e significativo - especialmente investidores-anjo, sérios e profissionais -, necessita ter a plena consciência de que o fator referente à busca estruturada de conhecimentos é algo presente, importante e incorporado nos princípios e práticas do empreendimento (e dos empreendedores).
A busca de quem traz os conhecimentos necessários (através dos sócios, colaboradores, investidores, parceiros, mentores, professores, conselheiros, consultores, etc.), juntamente com a indagação do quando e porque são necessários e também como e onde encontrá-los, transformam-se nos indicadores críticos da capacidade de sobrevivência e do potencial de sucesso de qualquer startup e devem ser foco daqueles que têm interesse direto no sucesso dessa iniciativa.
Quem sabe um dia, o Google e Wikipedia terão as respostas completas também para isso.