Sinais Vitais de Sucesso de Uma Startup: Evolução

Data: 06/12

Por: Roberto Rooney Zabeo

Alguns fatos que provavelmente muitos de nós desconhecem:

  • Thomas Edison não inventou a lâmpada, ele produziu apenas um filamento melhor e, mesmo assim, só descobriu o filamento definitivo depois de testar milhares de alternativas. James Watt não inventou a máquina a vapor - ele melhorou e implantou os estudos de Newcomen a respeito. Henry Ford não inventou a linha de montagem, antes dele e do Modelo T, Ransom Eli Olds produziu 5.000 unidades do Oldsmobile (em 1904) em Detroit, através da aplicação original do conceito de linha de montagem. Steve Jobs não inventou o mouse, ele o copiou de algo semelhante desenvolvido pela Xerox Corporation.

 

Citando Voltaire podemos afirmar que: "originalidade é nada mais que uma imitação criteriosa".  Dessa forma, Edison, Watt, Ford e Jobs devem ser reconhecidos como paradigmas de “originalidade consequente”, o que os conduziu ao enorme sucesso empresarial que alcançaram.

 

Não me entendam mal, nada contra a invenção ou criação, muito ao contrário. No entanto, embora possa parecer pouco heroico, o mecanismo simples de copiar e promover melhoria incremental, é o mesmo que a evolução, através da seleção natural, cegamente vem usando há bilhões de anos como processo para criar organismos tais como você e eu.

 

Geralmente (é importante destacar o geralmente) o foco do criador está em dar vida à ideia, validar hipóteses e criar os meios de construí-la, enquanto o empreendedor vive para dar e provar a viabilidade da execução e mostrar seus efeitos. Exemplificando: o criador de uma ratoeira revolucionária se envolve profundamente nos mecanismos, nos materiais, nas medições, e na busca da eficiência da “trapizonga”, o empreendedor, por outro lado, simplesmente nos mostra uma boa quantidade de ratos mortos e o registro da patente.

 

O que tem isso a ver com startups: Tudo! Sabem o por quê? A evolução de um novo negócio depende da adequação e readaptação das ideias, das invenções e dos métodos tradicionais, buscando tornar o que existe (ou o que compramos) menos relevante e/ou menos valioso comparado com o novo paradigma, o novo modelo e a nova oferta que se quer gerar.

 

Portanto, o aprender e o transformar são fundamentais tanto para a criação e invenção puras como para fazê-las evoluir em negócios sustentáveis.

 

Criação e invenção são fortemente baseadas em inspiração. Evolução (podemos estender esse conceito também para a noção de inovação), no sentido de produzir valor real, depende da transpiração profusa que ocorre ao se testar e rever continuamente tanto a legitimidade da invenção como os meios que a farão resolver problemas. Mais do que isso, o conjunto (ideia e meios) deve ter apelo para um contingente bastante apreciável de pessoas que nele vê benefício significativo. Para que dê certo, isso tem que refletir a prática contínua e intensa do aprendizado para se obter a transformação, que representa o objetivo final de todo esse processo.

 

Se o propósito da startup for realmente fundamentado na identificação de benefícios relevantes para muita gente, um enorme primeiro passo é dado no sentido do sucesso. Quando se fala de uma solução original apresentada por uma startup, certamente estaremos nos referindo a uma combinação inédita e consequente (de apelo amplo) de ideias, invenções, processos e aplicações provavelmente já existentes.

 

Um grande número de startups que avaliamos oferecem nada mais que uma solução à procura de um problema. As “soluções” normalmente vêm embaladas num Business Plan com uma série de hipóteses formuladas e refletidas numa planilha de resultados (geralmente bem elaborada). Infelizmente, isso é tudo que aparentemente lhes basta para sugerir a existência de um problema e racionalizar o eventual sucesso do empreendimento através de uma oferta “arrasadora”. Pouca - ou nenhuma - atenção é dada ao processo evolutivo no sentido prático (observar, aprender, combinar, testar, provar, rever, adequar, refazer, convencer), para justificar tanto a existência do problema como para descrever o processo de construção, desenvolvimento, validação e  entrega  da solução proposta, juntando organizadamente as peças relevantes. Ou, são exercícios de aprendizado sem transformação, ou são propostas de transformação sem o exercício do aprendizado.

 

Aqui enfatizo o óbvio: para ser bem sucedido um negócio nascente deve provocar comoção e compulsão por novas ideias respaldadas na efetiva criação de valor (conceito de valor: os benefícios são maiores que os custos de obtenção) tanto para quem produz como quem adota ou adquire. O processo que leva a maximizar valor - não conhecemos nenhum outro - é desenvolvido através da disposição, habilidades e comprometimento dos participantes da iniciativa em se entregarem ao inevitável ciclo (penosamente repetitivo) de observar aprender, combinar, testar, provar, rever, adequar, refazer, convencer e, finalmente, capitalizar sobre o resultado final, repetindo o looping quantas vezes for necessário. Notem que o capitalizar vem sempre por último! Geralmente nas “fake startups” o capitalizar vem em primeiro.

Para que o esforço tenha êxito, curiosidade, humildade e resiliência (incluindo persistência), em alto grau, - características sobre as quais falamos em artigo anterior - devem estar sempre presentes como competências e ingredientes fundamentais.

 

Ao se presumir, sabiamente, que oportunidades de negócio existem porque nada está pronto de forma definitiva, tudo pode ser feito de forma diferente, tudo pode ser revisto e melhorado temos que a isso agregar a questão de ponto-de-vista, de quem observa. O para que e para quem construímos o novo, o diferente e o melhor é o complemento essencial e a chave para identificar oportunidades verdadeiras de negócios. Isso, ao final do dia, representa a noção de evolução (aprendizado e transformação) que irá determinar o valor real que a startup propõe a seus clientes e que determina seu valuation como negócio.

 

Para que tudo isso seja possível e se converta numa realidade executável e representativa de um dos seus dez sinais vitais de sucesso, nosso próximo artigo irá explorar as características que devem estar presentes no DNA da equipe de trabalho de uma startup que aprende e transforma.