Sinais Vitais de Uma Startup: Curiosidade, Humildade e Resiliência

Data: 01/12

Por: Roberto Rooney Zabeo

Dentre os sinais vitais que podemos observar numa startup de sucesso, aparece com destaque um conjunto de características do(s) fundador(es) que permite antever que o negócio está realmente construído sobre uma sólida fundação humana, baseada na reflexão profunda sobre valores e propósitos do empreendimento e da qualidade de seus integrantes. Essa base, definitivamente, estabelecerá as chances de sobrevivência e prosperidade da nova empresa.

A nosso ver, as condições de solidez essenciais para que a startup se torne viável são extremamente semelhantes às condições humanas necessárias para que qualquer indivíduo também tenha êxito em sua jornada pela vida. 

Vamos tratar de identificar essas condições:

  •  Interesse e Curiosidade

  A frase “A curiosidade matou o gato” não vale para uma startup.

Quanto maior for o interesse, imersão e nível de investigação sobre o ambiente que cerca o negócio, maiores são as alternativas para encontrar as formas de aumentar o grau de inovação, de diferenciação, de determinação do tamanho da oportunidade e de operação dos fatores críticos de sucesso.  

O interesse e a curiosidade contínuos, permitem testar as hipóteses relevantes sobre o negócio, antes do aporte de maiores investimentos, e permitem uma leitura precisa (e fundamental) dos resultados da prototipagem da oferta, i.e., como desenvolver e construir um MVP (“Minimum Viable Product”) de forma rápida, como testá-lo e como melhorá-lo. 

Sun Tzu se refere a isso:                                                                                   “Conheça o inimigo e a si mesmo e você obterá a vitória sem qualquer perigo; conheça terreno e as condições da natureza, e você será sempre vitorioso.”.

  •  Humildade no Reconhecimento das Limitações

A complexidade de um novo negócio é algo que só pode ser vivenciada e vencida pelo exercício da humildade; isso também se remete à frase de Sun Tzu acima no que diz respeito ao autoconhecimento.

Todos os dias surgem novos fatores (oportunidades e ameaças) que ou são decifrados ou serão devoradores de um novo negócio. O(s) fundadore(s) e a equipe de trabalho devem ser inspirados por uma citação de Einstein, cuja frase “Uma vez que aceitamos nossos limites, vamos além deles.” parece ter sido dedicada especialmente a uma startup.

O confronto permanente com uma série de situações, para representar contribuição efetiva e valor ao que fazemos, deve transformar nosso orgulho em resultados práticos. Isso é muito mais representativo nas circunstâncias de grande instabilidade de um novo empreendimento, especialmente quando a dependência de fatores externos é vital para o sucesso. Arrogância, superioridade e individualismo devem dar lugar ao respeito e submissão a influências que não podemos controlar e a conhecimentos que não possuímos.

Não devemos abrir mão de nossa personalidade, consciência do próprio valor, espírito vencedor, ambições, etc., mas podemos aumentar nossas potencialidades de forma exponencial, principalmente através da revisão e ampliação substancial de nossa cota de humildade, reconhecendo que teremos ainda que enfrentar (e mitigar) as consequências de muitos erros e de limitações.

  •  Alto Grau de Resiliência

Cair, levantar, seguir adiante com energia, graça e elegância na direção de um propósito pode representar simbolicamente a ideia de resiliência. No entanto, o significado de resiliência vai algo além e trata da nossa capacidade de lidar com mudanças constantes; isso fatalmente implica em aceitar hesitações e tropeços na caminhada com muito mais frequência do que em qualquer outra situação normal.

Quanto mais mutante o ambiente, mais sujeitos a imprevistos são os caminhos e mais resilientes temos que ser. O único fator estável na viagem deveria ser o nosso destino, mas esse também pode ser revisto; no entanto, quanto mais o revermos menos resilientes seremos porque será ele o resultado dos caminhos mais fáceis e não o ponto de chegada que inicialmente definimos. Estaremos, no caso, viajando sem propósito o que nega a ideia fundamental de resiliência.

Uma startup, com propósitos e uma firme determinação de construção de valor para muita gente, é por natureza um exercício prático em resiliência e se alguém realmente quiser fazer um curso intensivo é só começar um novo negócio.

Por outro lado, resiliência não pode ser confundida com teimosia, masoquismo ou heroísmo; no caso, a humildade é uma grande conselheira da resiliência porque estabelece e delimita o grau de ousadia (mitiga riscos) e arrogância (elimina preconcepções) que muitas vezes estabelecemos ao iniciar um novo negócio. Quanto mais humildes formos mais aprofundaremos o nosso conhecimento e ampliaremos o alcance de nossas percepções; através disso, mais opções serão abertas e, com nosso grau de resiliência aumentado, menos penosos serão os ajustes que as mudanças aceleradas nos impõem.

Meu contato diário com startups tem-me permitido notar (do ponto-de-vista observador de um consultor e interessado no papel de investidor-anjo) como alguns conceitos, atitudes e atividades poderiam e deveriam ser revistos para a melhoria desse ecosistema. É com essa intenção que em meu próximo artigo o assunto abordado será referente ao terceiro sinal vital de uma startup que diz respeito à busca da evolução através do aprendizado e experimentação constantes.