Sinais Vitais de Uma Startup: Paixão com Racionalidade... é Possível?

Data: 27/12

Por: Roberto Rooney Zabeo

 

Creio que qualquer incursão, em qualquer campo de conhecimento, para procurar descobrir e entender o que leva um indivíduo a empreender é tema inesgotável de ponderação e discussão. Dessa forma, levanto hipóteses, limitadas apenas sobre o que chamamos paixão, sua intensidade e o correspondente nível de racionalidade que devem estar juntar para um empreendimento dar certo.

 

Como quase tudo que produz sucesso na vida é a combinação de proporções adequadas de emoção (paixão) e razão, isso também deveria se estender para uma startup, ou isso não se aplica total ou parcialmente? A resposta deveria ser: depende da proporção, da qualidade dos ingredientes e da forma de combiná-los. Vejamos por que.

 

A permanente nutrição de motivações para começar e levar a cabo um empreendimento, com grande risco, é característica notável de poucos indivíduos. Os descobridores, os aventureiros, desbravadores e grandes empreendedores têm em comum o traço de conduta que é  desenvolver forte paixão pelo inusitado e em se lançar “por mares nunca dantes navegados”.

 

Alguns personagens, conhecidos através dos livros escolares, pelo National Geographic e Fortune 500, tiveram êxito em suas empreitadas. No entanto, foram uma clamorosa exceção com relação aos que não tiveram sucesso. O que os distinguiu (na grande parte dos casos) foi uma clara noção da diferença e da prática entre o significado de empreender versus o de aventurar e o que isso implica em riscos.

 

Quase sempre, o diferencial entre o sucesso e o fracasso não foi a intensidade da paixão pela ideia, que estava (ou deveria estar) sempre presente. Tampouco, creio que foi uma questão de fé porque, embora possa ajudar, e muito, na condução da empreitada, a fé não resolve isoladamente questões essenciais como a falta de propósito, de visão turva, de planejamento limitado e de pobre execução. É no pleno entendimento da representatividade dessas quatro últimas noções que reside a diferença entre aqueles que deram certo e os que não.

 

Quando nos aprofundamos em descobrir mais sobre o assunto, percebemos que a paixão dos que deram certo não era concentrada exclusivamente na ideia e no sonho de vê-la concretizada. Mas, principalmente, foi demonstrada por extraordinária paixão em tornar excepcionais as seguintes atividades de realização:

 

  • Envolver - pelo propósito - os agentes fundamentais do empreendimento (parceiros e clientes).
  • Dar um sentido de visão compartilhada dos benefícios para todos.
  • Detalhar minuciosamente a viagem (e o negócio), procurando conhecer de antemão os obstáculos mais críticos e a forma como vencê-los ou circunscrevê-los. Além disso, conhecer quais os recursos essenciais necessários e reuní-los.
  • Executar o propósito, medindo objetivamente o progresso com relação ao que foi planejado e contingenciado. Esse é o elo mais forte e notável da capacidade dos que venceram na transformação de sonhos em realidade, apesar de todas as circunstâncias e limitações. Não é a paixão pela paixão, é por aquilo que faz a diferença, seja no detalhe ou seja na visão do quadro completo.

 

Esse conjunto de atividades racionalmente passionais é apenas básico não garantindo sucesso, uma vez que nem todos os empreendedores possuem inatamente as competências requeridas para “apaixonadamente fazer acontecer”.

 

Gostaria de lembrar também que dos 99.6% das startups nos Estados Unidos que não chegaram ao estágio de IPO (considerado como a medida suprema de sucesso), nem todas deixaram de combinar adequadamente a paixão com a racionalidade; quem sabe faltou apenas um pouco menos (ou pouco mais) dos imponderáveis do que seja empreender. Mesmo assim, sem o IPO, algumas (ainda muito poucas) com doses ajustadas de paixão e razão, deixaram seus empreendedores e investidores financeiramente bastante saudáveis.

 

Quando se deseja muito (paixão profunda) e tem-se - ou pratica-se - o método (racionalidade esclarecedora) as condições são dadas para que a ideia central do negócio faça sentido e os riscos melhor avaliados e mitigados. Uma vez que isso se demonstra, identifica-se a existência das competências vitais para empreender com sucesso, que, talvez, só tenham que ser lapidadas e maturadas. Apenas a partir desse instante é que um empreendimento começa a reunir possibilidades de ser considerado, de verdade, como uma boa opção para investimento porque revela que os empreendedores sabem claramente o porquê do negócio, o porquê estão nele e possuem o know-how necessário para conduzi-lo.

 

Quem sabe se ao exceder essas condições, com ventos fortes a favor e bom humor de outros imponderáveis, você não será transportado um dia para a capa da Forbes. Esse é o meu mais sincero desejo, bem como de todos os investidores-anjo que você encontrar pelo caminho.

Ainda bem que não falei das funções dos hemisférios cerebrais - apesar da vontade ter sido grande-, mas isso foi dispensável porque é evidente que apenas a convivência adequada da paixão e da razão pode conduzir - com a sabedoria necessária - qualquer empreendimento a resultados extraordinários.